Entrevista – Ricardo Samel

Entrevista – Ricardo Samel

Ricardo Samel é bailarino e professor de Flamenco no Rio de Janeiro e em Niterói. Iniciou seus estudos em 1984 com Alberto Turina e Mabel Martin e completou o curso pela Escola de Dança Flamenca Sonia Castrioto tornando-se seu auxiliar na escola de mesmo nome e bailarino no grupo Alumbre Flamenco.

Especializou-se no figurinismo para o Flamenco e desenhou e assinou os figurinos de grupos do Rio de Janeiro como o Arte Flamenco, Grupo Raga, Levante Flamenco, Grupo Flammeum e de solistas como Sonia Castrioto, Soraia Castrioto, Simone Abrantes, Natercia “la Buscadora”, Rodrigo Garcia, Marilyn Mafra (Florianópolis), Mariana Abreu (Campinas), Kátia Simões (Paraná), Garima Augusta (Ribeirão Preto), Emília Gregório, Suraya Helayel, Vera Alejandra (São Paulo), os internacionais Sara “la Mora” e Gustavo Cancela, o grupo Flamenco Vivo e o atual Essências Flamencas. Além disso, costuma dar consultoria de figurinos para alguns grupos de dança e academias de Niterói.

FRJ: Você tem mais de 20 anos de Flamenco. Como foi o seu primeiro contato com essa arte? Você já dançava outras modalidades ou começou direto no flamenco?
Ricardo: Meu contato foi com o filme “Os amores de Carmen” com Rita Hayworth no papel principal. Gostei daquelas castanholas e queria aquilo. Não sabia o que era. Comecei pela Dança Cigana, mas fiz um dia só porque não encontrei afinidade alguma. Fiz 1 ano de Patinação Artística mas não se compara com a dança em si. Então encontrei Mabel Martín e Alberto Turina numa academia em Botafogo (inexistente hoje) na Rua Bambina. Fiquei com eles por um ano também e depois encontrei a Sonia Castrioto em Ipanema.

 

FRJ: O que o Flamenco significa para você?
Ricardo: Uma forma de ver e sentir a vida. Dentro do Flamenco existe eco para tudo o que sinto e penso a respeito da vida. Ali encontro a minha terapia e o polimento da minha vida.

FRJ: Como você começou a dar aulas? Como professor, como é formar um bailarino? O que isso representa para você?
Ricardo: Comecei quando a propria Sonia me pediu para substituí-la porque precisava resolver uns problemas. Ao mesmo tempo comecei em Niterói no Studio Parizzi e no Ballet Helfany Peçanha. Na verdade, a formação em qualquer dança se faz em estabelecimentos com reconhecimento da SEC e vinculado ao MEC. Universidades e etc. Eu não formo. Eu posso aplicar e avaliar com um grupo de profissionais e dar aval para que o Sindicato dos Profissionais da Dança no RJ encaminhe a papelada para o Ministério do Trabalho e efetive o registro profissional. Não faço distinção de quem quer usufruir do conhecimento em Dança Flamenca daqueles que querem ser profissionais. Quando se entra numa faculdade, você aprende tudo o que é necessário para o curso pretendido e recebe seu diploma. Agora como vai aplicá-lo em sua vida são outros quinhentos. Existem muitos profissionais formados em diversas áreas que não exercem sua profissão. E muitos formados em outras áreas que estão em outras profissões sem nenhuma ligação com dança.

FRJ: Quando e como você se interessou por figurinos Flamencos e, mais especificamente, pela bata-de-cola?
Ricardo: Comecei quando vi que nenhuma costureira entendia nada e fazia a saia como se fossem de cigana com aquele excesso de roda e babados franzidos. Juntei meus conhecimentos de arquiteto e de costura, pois era eu quem arrumava e ajeitava a máquina da minha mãe. Acabei aprendendo sobre tecidos, linhas e segredos de costura. Então comecei a fazer testes com minhas alunas em Niterói… dava as saias. A diretriz vinha dos toques que Sonia Castrioto me dava e acabei inclusive realizando vários figurinos pra ela e algumas bailarinas do grupo. A bata de cola veio por curiosidade por se tratar de parte da cultura andaluza. Aprendi o manuseio com umas batas de Brim, pesadérrimas, do professor Theo Dantes que me ensinou em particular e me deixou copiar uma. Aprendi o básico e guardei na memória, pois não é qualquer um que pode usá-la para baile. Quando soube que na Espanha grandes bailaores a usavam como solistas e números de grupo com outros rapazes, saí do armário e ousei. E não parei mais.

FRJ: Você teve um programa de Flamenco na Radio JD, o Tablado Flamenco. Como foi realizar esse projeto? Que dificuldades encontrou e por que tiveram que encerrar o projeto?
Ricardo: Na verdade o Programa foi uma idéia do Edézio Paz que convidou a Estrella Bohadana e que, por tabela, acreditou em mim e me chamou para ser comentarista e ela a âncora. Algum tempo depois, rolava tanta sintonia que não sabíamos quem era âncora ou comentarista. Apesar de construirmos um calendário para cada edição, sempre rolava um improviso entre nós. A dificuldade surgiu por divergências de opiniões entre nós e o diretor da Rádio. Pagávamos para fazer um programa e a liberdade estava acabando. A proposta me foi mantida pelas amigas do site Flamenco-Brasil mas optei por esperar mais um pouco porque meu tempo está muito tomado com as aulas e o figurinismo.

 

FRJ: Para você, o que um bom bailarino de Flamenco precisa ter?
Ricardo: Em primeiro lugar a ALMA. Depois a técnica para facilitar a externalização dela. Com isso, a disciplina, humildade para aprender e humildade para ensinar vem por tabela. A Dança é um exercício igual a casamento “que seja eterno enquanto dure”.

FRJ: Você usa muito a bata-de-cola em suas apresentações. Que influências você teve para começar a usá-las? Você sofreu algum tipo de preconceito ?
Ricardo: Admiro muito a Milagros Mengibar e Concha Jareño, mas minha atual fonte inspiradora é Inmaculada Ortega. Sim, sofri e continuo sofrendo, mas isso não me abala mais. Já me acostumei porque no final muitos me agradecem por mostrar um homem dançando com saia mas que não é afeminado e nem passa esta idéia porque a emoção foi mais importante.

FRJ: No ano passado, você realizou a primeira Noite Espanhola de Niterói. Pretende repetir o evento na cidade ou no Rio de Janeiro? Quais são os próximos planos?
Ricardo: Sim, claro! Pretendo sim. O problema é que em Niterói ainda há muito provincianismo com arte. A cidade se acha abastada e, apesar de estar há mais de 25 anos trabalhando nela, foram raríssimas as vezes que consegui algo. A colônia espanhola radicada lá também é meio desinformada sobre a cultura andaluza e não ajuda muito.

FRJ: O que você acha que falta no Flamenco aqui no Brasil?
Ricardo: Mais músicos e mais cantaores, pois de bailaores estamos explodindo pelo mundo! Graças à Deus! Temos amigos dos principais estados em atividades fora do Brasil com bailaores e isso é um orgulho que tenho por eles e por nós todos.

FRJ: Que bailarinos você toma como referência para o seu trabalho? Por quê?
Ricardo: Inma Ortega reúne de tudo um pouco e mantém a essência do Flamenco intacta. Ainda vejo Adrian Galia como uma verdadeira fonte inspiradora porque se preocupa com os mínimos detalhes. Aqui no Brasil admiro muito a Ana Paula Campoy de SP, a Vera Alejandra por original no que faz e o Fabio Rodrigues.

 



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